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Quando ouvi pela primeira vez do meu oncologista que o novo tratamento que estou fazendo para essa recidiva não tem uma data específica para terminar — mesmo com um diagnóstico negativo — pensei que, mesmo que levasse alguns anos, em algum momento eu estaria livre disso.


Vou encaixar isso na minha vida — e não o contrário

Mas na minha última infusão essa semana (eu faço a cada três semanas), perguntei de novo, porque estou planejando uma viagem ao Brasil e queria ficar mais tempo do que esse intervalo. Para minha decepção, ele me disse que ainda não pode prever uma data de término. Simplesmente não há dados suficientes, e cada caso é diferente. A única coisa que ele sabe com certeza é: se eu parar, pode voltar.


Nada divertido.


Ele disse que, no fim, serei eu quem terá que decidir se vale a pena pular uma infusão para algo importante — como estender minha estadia no Brasil.


Ouvir isso me trouxe um turbilhão de emoções. Levei dois dias para conseguir escrever sobre o assunto. Nunca imaginei passar por um câncer de mama, muito menos duas vezes. Sem mutação genética, sem histórico familiar, sem maus hábitos de saúde. E mesmo assim… aqui estou. De novo.


E agora, saber que vou depender desse medicamento por um tempo imprevisível, é puxado.


Você pode pensar: “Mas qual o problema? Muitas mulheres com câncer de mama tomam remédio todos os dias por 5 ou 10 anos.” O que pesa pra mim é precisar ir a uma clínica oncológica a cada três semanas. Tomar os pré-medicamentos que bagunçam minha cabeça — especialmente o corticoide. Perder o dia inteiro porque eles me deixam exausta. Depender de alguém pra me levar. Não poder simplesmente planejar uma viagem longa para ver minha família e amigos sem pensar nas datas do tratamento.



Minha vida inteira precisa ser planejada em torno das datas da infusão.


Ainda bem que tirei o acesso, porque aquela coisinha seria minha “amiga para sempre” por tempo demais — e aquilo incomoda muito!


Agora, a única coisa que posso fazer é ressignificar tudo isso. Talvez leve um tempo — ou não. Mas eu preciso encontrar uma forma de encaixar esse tratamento na minha vida, e não viver em função dele. Não quero me sentir escrava disso.


Toda essa jornada com o câncer — a primeira e a segunda — trouxe muita coisa pra refletir. E principalmente, pra me adaptar. É muita coisa pra processar. Mas a única maneira que sei de seguir é ressignificar cada pequeno desafio… e ser grata.


Sim — grata pelas experiências, pelas possibilidades, pela força que a gente tira de dentro e pelo apoio que recebemos. Me dá uns dias. Tô ressignificando.

 
 

Uma das histórias que a minha mãe sempre gostou de me contar e relembrar é da minha cisma em usar certos acessórios ou roupas quando criança, sem explicação ou inspiração em nada ou ninguém. Eu simplesmente cismava e não me importava com olhares alheios ou comentários sobre ser estranho ou cafona. A mais notável história foi a da gravatinha.


A Gravatinha Roxa
Sim, essa sou eu pequenina na foto da escola, usando a minha indefectível gravatinha roxa. 

Lá pelos 7 anos, eu cismei em usar gravatinhas borboleta. Tinha uma principal, de tecido roxo, e uma outra de plástico que usava menos. Cheguei a usar até uma gravata de crochê lilás - sim, de crochê! Mas a que eu mais gostava, e achava cool, era a gravatinha borboleta de tecido na cor roxa. Combinava com os mais diferentes looks — o importante era o acessório estar ali. Era meu, e ninguém mais tinha ou usava algo igual. Lembro de diversas vezes em que íamos sair em família e minha mãe perguntava: “Vai de gravata mesmo?” E eu não tinha dúvida: sim. Vergonha alheia, talvez, para uma mãe. Mas eu tinha a certeza de que estava abafando.


Nunca levei isso para a terapia, mas seria interessante um dia colocar esse tema em pauta. Recentemente, fazendo um exercício de estratégia de marketing, tivemos que analisar como éramos quando criança — nossas aspirações, o que queríamos ser quando crescer, características marcantes e outros traços. E lá veio ela, com toda a sua força fashion: a gravatinha roxa.


Ao analisar esse símbolo tão forte para mim, fui percebendo que, desde cedo, carregava esse sentimento de não pertencimento a um grupo específico ou de não me encaixar em apenas uma “categoria”. E que isso, na infância, não trazia angústia ou questionamentos — era simplesmente viver minha identidade em plenitude. Ter a liberdade de ser quem eu era, mesmo com olhares de reprovação, e seguir em frente.


A Gravatinha Roxa

Isso, mais tarde, foi se transformando em estar um pouco à frente do tempo, às vezes falando mais do que devia ou compartilhando mais do que era “esperado”. Também tive, na vida adulta, momentos em que escondi esse meu lado f*da-se-o-que-os-outros-vão-pensar — me anulando ou me adaptando demais. Mas é claro que, quando chegava a hora de escrever um texto autoral, o tema do pertencimento, da aceitação e da valorização sempre aparecia no meu trabalho.


Desde o primeiro tratamento de câncer, em 2022, esse assunto veio com força total. E agora, nesta segunda leva (que já foi, bye-bye, câncer!), explodiu de vez. A gravatinha roxa virou o meu símbolo interno, pra me lembrar de ser quem eu sou — e não ter vergonha, nem a necessidade (ou seja lá o que for) de não vivenciar isso na sua mais pura essência.


Continuo acreditando na importância da maleabilidade para se adaptar às circunstâncias. Afinal, viver o seu eu verdadeiro é bem diferente de teimosia ou de querer chocar quem é diferente de você. Com a maturidade, a gente entende isso. Porém, a adaptação constante — à vida social, profissional, familiar — tem seu limite. E ele aparece quando você volta à sua infância e se pergunta: onde foi parar aquela criança?


Eu já achei a minha gravatinha roxa de volta. E você?


 
 

Vamos falar sobre exercício. Desde o início do meu segundo tratamento contra o câncer, tenho compartilhado meus treinos diários—não apenas para manter minha própria motivação, mas para motivar outras pessoas, especialmente pacientes oncológicos. A atividade física é essencial em todas as fases do câncer: antes do tratamento, durante e após. Além disso, desempenha um papel fundamental na prevenção. Durante meu tratamento em 2022, minha equipe encológica enfatizou a importância de exercitar-se cinco vezes por semana, mesmo durante a quimioterapia. Eu segui essa recomendação, mas me pergunto quantos pacientes realmente entendem sua importância.


Como o Exercício Pode Ajudar a Combater o Câncer - A Ciência Explicada

Recentemente, recebi uma newsletter da Dra. Rhonda Patrick com uma entrevista do Dr. Kerry Courneya, um dos principais especialistas em oncologia do exercício. A conversa deles revelou informações valiosas sobre o impacto do exercício na prevenção e no tratamento do câncer. Para aqueles que estão lutando contra a doença ou apoiando alguém nessa jornada, essas informações são fundamentais.


Recomendo fortemente que assistam à entrevista (em inglês), mas, por enquanto, aqui estão alguns pontos-chave da conversa:


  1. O Câncer Pode Atingir Qualquer Pessoa:  O Dr. Courneya destaca que o câncer pode se desenvolver mesmo em indivíduos sem predisposição genética ou fatores de risco conhecidos. Isso ressoa com minha experiência—mesmo levando um estilo de vida saudável e sem histórico genético, ainda assim enfrentei a doença.


  2. Recomendações Ideais de Exercício: Praticar entre 150 a 300 minutos de exercícios de intensidade moderada por semana está associado a benefícios significativos para a saúde. Essas diretrizes também se aplicam à prevenção do câncer.


  3. Exercício Aumenta a Resiliência ao Tratamento: A atividade física regular pode melhorar a capacidade dos pacientes de tolerar os tratamentos, reduzindo efeitos colaterais e promovendo o bem-estar geral.


  4. Massa Muscular Importa: Manter ou ganhar massa muscular é crucial, pois a baixa massa muscular está ligada a piores prognósticos do câncer. O treinamento de resistência ajuda a combater a perda muscular causada pela doença e pelo tratamento.


  5. Exercício Estruturado vs. Atividade Diária: Embora a movimentação geral seja benéfica, um programa de exercícios estruturado pode trazer benefícios direcionados que atividades cotidianas podem não oferecer.


  6. Momento Certo para Exercitar-se Durante o Tratamento: Integrar exercícios aos tratamentos, como quimioterapia e imunoterapia, pode melhorar a eficácia do tratamento e os resultados do paciente.


  7. Descansar Nem Sempre é a Melhor Opção: Ao contrário do que muitos pensam, repouso excessivo pode ser prejudicial. Exercícios apropriados ajudam na recuperação e na qualidade de vida durante o tratamento do câncer.​


  8. Aeróbico vs. Treinamento de Resistência: Ambos oferecem benefícios únicos. O aeróbico melhora a saúde cardiovascular, enquanto o treino de resistência é essencial para manter a massa muscular.


  9. O Papel do Exercício na Redução de Tumores: A atividade física pode influenciar a biologia do tumor, ajudando a reduzir seu tamanho e retardar sua progressão.


  10. Impacto do Cardio nas Células Tumorais: Exercícios cardiovasculares podem ajudar a eliminar células tumorais circulantes, reduzindo o risco de metástase.


  11. Variação na Resposta ao Exercício: Nem todos os tipos de câncer respondem da mesma forma ao exercício, destacando a necessidade de prescrições personalizadas na oncologia.


  12. Mudança de Perspectiva na Oncologia: A comunidade médica está cada vez mais reconhecendo o exercício como parte essencial do tratamento do câncer, refletindo uma abordagem mais holística ao cuidado do paciente.


  13. Benefícios Psicológicos: O exercício pode reduzir a ansiedade e a depressão associadas ao câncer, promovendo benefícios para a saúde mental.


  14. Exercício Antes, Durante e Após o Tratamento: Incluir atividade física nessas três fases pode melhorar a recuperação e a saúde a longo prazo.


  15. O Exercício Como Terapia Única: Diferente dos tratamentos farmacológicos, o exercício beneficia múltiplos aspectos da saúde ao mesmo tempo.


  16. Incentivando Pacientes Sedentários a se Exercitarem: Programas de exercícios realistas e adaptados podem motivar até mesmo os pacientes mais sedentários a serem ativos, melhorando seu prognóstico.


  17. Benefícios Econômicos: Incluir o exercício no tratamento oncológico pode reduzir custos de saúde ao melhorar os resultados do paciente e minimizar complicações.


Mantenha-se ativo e forte!


How Exercise Can Help Fight Cancer – The Science Explained




 
 
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