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Às vezes penso que tenho uma tendência a fazer as coisas de forma automática, sem me aprofundar muito. Algo talvez um pouco frio. Quem vê de fora acha que me jogo com tudo, cheia de emoções, mas, para ser sincera, me jogo no escuro, mais no estilo "vamos viver e ver no que vai dar" do que movida por uma paixão arrebatadora. Mas o que isso tem a ver com o tema deste texto? Bem, o fato de estar prestes a completar 10 anos vivendo em outro país — de ter imigrado — encaixa-se exatamente nessa categoria do "vamos ver no que vai dar", sem pensar muito. Inconsequente? Talvez.

Eternamente Imigrante

Minha imigração não aconteceu porque eu queria viver em outro país, nem porque desejava trabalhar fora. Não foi porque eu precisava deixar um lugar sem oportunidades e muito menos porque buscava a tão falada "liberdade". Imigrei para viver um amor que estava começando a florescer, para ver no que ia dar. E assim voltamos ao primeiro parágrafo. Inconsequente? Talvez.


Acredito que, quando se imigra por uma razão assim, fica-se com a sensação de que sempre serei uma imigrante. Meu coração, minha história, minha cultura, minhas raízes, minha língua, meu sotaque e minha alma estarão para sempre no meu país de origem. Não importa o tempo que eu viva fora, os documentos que eu tenha ou o quanto eu me adapte. Uma vez imigrante, para sempre imigrante.


Eternamente Imigrante
Sim, essa sou eu!

A cada ano nos Estados Unidos, sinto-me mais brasileira. E, a cada ano aqui, sinto mais saudade da minha terrinha. Não quero entrar na discussão sobre qual lugar é melhor. Isso não me interessa, até porque todos os países têm seus próprios problemas, aquela coisinha que dá motivo para reclamar. Ah, mas tinha que ser brasileiro, americano, sueco, jamaicano, polonês, coreano... e por aí vai.


Será que essa sensação de não pertencer vai acabar algum dia? Acho que possivelmente não. E, sinceramente, nem sei dizer se isso é bom ou ruim. Apenas sigo vivendo e sentindo-me uma eterna imigrante.


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Outro dia eu recebi um email do Hotmail (sim, ainda tenho uma conta Hotmail que completará 30 anos de existência em 1995), como algumas fotos de anos atrás. Uma delas é essa onde estou em um kart em Belo Horizonte, fechando a turnê da banda americana de punk-rock ou mais precisamente, Krishna-Core, o hardcore com influências orientais relacionadas ao hinduísmo.


Você Já Foi Tradutora de uma Banda de Krishna-Core? Eu Fui!

A banda Shelter foi ao Brasil pela primeira vez em 1997 em uma turnê de uns 15 dias em cidades como Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Santos e Belo Horizonte. E eu no auge dos meus 19 anos fui a tradutora oficial da banda, convite feito pelo querídisso Cacá Prates, amigo do meu pai e com muitas histórias de rock and roll e estrada.


Segundo a minha irmã Mariana, eu sou uma espécia de Forrest Gump. Eu tive tantas expeiências interessantes e loucas em minha vida, mas acho que essa está no top 5 da parada "best moments of my life". Não somente porque viajei pelo Brasil em uma turnê de quando a banda explodia na MTV, mas pela experência espiritual e literalmente transcendental que tive no primeiro press-conference da banda no Rio em um templo hindu no Alto da Boa Vista. Essa experiência, foi um misto de alegria e gratidão que nunca havia presenciado. Após uma dança no ritmo energético hare-krisna, eu saí do meu corpo e flutei pelo salão como se tivesse há 3 dias a cantar e dançar. Ao voltar para o meu corpo físico, estava a chorar junto com o meu pai e o responsável pelo templo. Não, não teve bebidas nem drogas. Foi puro êxtase e música mesmo.


Você Já Foi Tradutora de uma Banda de Krishna-Core? Eu Fui!

Isso foi o primeiro dia dessa experiência, recheada por outros momentos vivenciando a estrada - no caso, avião rs - rock and roll. Teve João Gordo rindo de mim porque o vocalista pediu para eu traduzir um discurso de contra violência no show de Santos e por isso, ganhei uma cusparada de um fã revoltado. De conhecer em cada cidade um templo hare-krisna e provar a sua comida deliciosa. De criar uma amizade querida com o baixista que amava escutar os K7 de bandas brasileiras de rock que ele recebia de seus fãs e que morria de medo de avião que nem eu. De uma vez quase perder o ônibus com a banda porque o segurança me confudiu com uma fã. De dar muitas gargalhadas com a querida Silvia (RIP). De aproveitar os quartos de hotel só para mim. E de até mesmo ter algumas rusgas com o vocalista (sim, este rapaz acima, onde depois de uma dessas rusgas, tiramos essa foto).


Obrigada meu velho amigo Hotmail por me fazer recordar. Obrigada vida por esses momentos. Mais uma checked na lista e mais uma história Forrest Gumpiana para contar.

 
 
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